19 de janeiro de 2025
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Trabalhadores denunciam descaso e insegurança durante sondagem da Ponte Salvador-Itaparica

 Trabalhadores denunciam descaso e insegurança durante sondagem da Ponte Salvador-Itaparica

Foto: Soteropoles

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Em meio às buscas pelo corpo do mergulhador Williames da Silva Teixeira, de 54 anos, que foi encontrado na manhã desta sexta-feira (20), em Mar Grande, um grupo de trabalhadores procurou o Soteropoles para denunciar o Consórcio responsável pelo serviço de sondagem da Ponte Salvador-Itaparica. Os ex-funcionários, que optaram por não se identificar, relataram à reportagem casos de insegurança e descaso de superiores diretos.

Há meses, o sentimento de medo foi algo que acompanhou a rotina dos colaboradores da sondagem. Eles relataram insegurança no local de embarque e desembarque, falta de equipamentos adequados e infraestrutura deficiente. Além disso, os ex-funcionários destacam riscos à segurança pessoal, como a presença de moradores de rua violentos, ausência de vigilância, ordens perigosas e condições de higiene precárias.

Revoltado com o afogamento de Williames, um ex-funcionário falou ao Soteropoles que, no período que esteve na obra, não eram realizadas etapas importantes para a atividade de mergulho, como a inspeção dos equipamentos e a análise preliminar do risco de cada operação. De acordo com as informações obtidas, no momento do incidente, o mergulhador estava submerso para fazer uma inspeção na âncora de uma balsa.

Em contato com a imprensa, a Sapucaia Engenharia, responsável pela contratação dos mergulhadores, informou que está prestando todo o apoio à família do mergulhador que faleceu. A empresa terceirizada afirma ainda que “segue as normas de segurança vigentes e ressalta que foram disponibilizados todos os equipamentos individuais e coletivos de segurança necessários para a execução do serviço”.

“Uma situação me marcou bastante. Um dia a Marinha emitiu alerta vermelho pois as condições climáticas estavam causando instabilidade no mar. Pedimos para suspenderem momentaneamente a ida para o local da sondagem, mas não adiantou. Mandaram o pessoal entrar na balsa mesmo assim. Ficamos com muito medo. Em um momento a embarcação quase virou. Ia ser uma tragédia muito grande. Ninguém se recusou a ir pois estávamos com medo de perder o emprego”, acrescentou outro ex-colaborador.

Outro integrante do grupo de denunciantes relatou um episódio assustador que aconteceu durante o serviço. Segundo ele, um dos trabalhadores foi ameaçado de morte por um morador de rua que estava no local de embarque. A ameaça aconteceu após o funcionário reclamar que o mesmo estava urinando onde eles esperavam pela balsa.

“O descaso dos superiores em relação às essas situações é revoltante. Nós pedimos inúmeras vezes a mudança do local de embarque e desembarque e nada foi feito. Não há um mínimo cuidado com os colaboradores. Para vocês terem ideia, não havia uma ambulância ou ‘ambulancha’ no local para prestar os primeiros socorros, nem um contrato firmado com nenhum serviço de emergência médica”, afirmou.

A reportagem entrou em contato com o consórcio e aguarda o posicionamento sobre as denúncias. A Concessão Sistema Rodoviário Salvador-Ilha de Itaparica é composta por dois grandes grupos chineses, que estão entre os maiores do mundo no segmento de construção e infraestrutura, o China Railway 20th Bureau Group Corporation (CRCC20) e o China Communications ConstructionCompany (CCCC).

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