Mesa sobre Afrodiáspora com atriz Viola Davis reúne centenas de pessoas no Festival Liberatum em Salvador

 Mesa sobre Afrodiáspora com atriz Viola Davis reúne centenas de pessoas no Festival Liberatum em Salvador
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Fotos: Bruno Concha / Secom PMS

O Festival Liberatum, evento internacional de criatividade, reflexão e celebração da cultura, começou nesta sexta-feira (3) trazendo para Salvador personalidades mundiais como as atrizes Viola Davis e Angela Bassett e o escritor Wole Soyinka. A programação gratuita, que ocorre no Centro de Convenções até este domingo (5), foi aberta às 10h com a presença do prefeito Bruno Reis e seguiu com a mesa Uma Vida Dedicada à Cultura, com a ministra da Cultura Margareth Menezes e o dançarino e produtor cultural Gil Alves. O festival é gratuito e todos os ingressos foram esgotados logo no primeiro dia de disponibilização.

Com programação focada no protagonismo negro no Brasil e no mundo, uma das atrações mais aguardadas deste primeiro dia foi a mesa Afrodiáspora, com as atrizes Viola Davis e Taís Araújo, além da empreendedora cultural Melanie Clark e do ator e produtor Julius Tennon. Davis é reconhecida mundialmente por seus papéis em séries e filmes, entre eles o de protagonista no longa-metragem A Mulher Rei, lançado em 2022, que conta a história de um grupo de guerreiras que tenta proteger o reino africano de Daomé, por volta de 1820.

Viola falou sobre a importância de que diferentes histórias sejam contadas nas grandes produções audiovisuais. “Eu acho que você acaba percebendo que tudo o que te disseram sobre ser uma atriz negra é mentira. As limitações sobre as histórias, sobre o que as pessoas querem ver, eu chamo essas coisas de opressão internalizada. Quando o mundo diz para vocês que apenas uma certa parte da população, da história, é importante. Eu sempre acreditei que quando você faz algo como artista, que é honesto, as pessoas querem ver e isso me empoderou”, disse.

Viola Davis entrou para o seleto grupo artístico do EGOT (Emmy, Grammy, Oscar e Tony Awards), alcançando todos os principais prêmios da indústria do entretenimento mundial, tornando-se a 18ª personalidade no mundo e a terceira mulher negra a conquistar esse feito. Também foi considerada pela revista Times uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2012 e em 2017. Casado com Davis, Julius Tennon é ator e produtor de cinema. Juntos, eles abriram a própria produtora, Juvee Productions, responsável por projetos como o longa A Mulher Rei.

Tennon comparou a experiência de visitar Salvador à que teve em Cape Town, na África do Sul, durante as gravações do filme. “Estar naquele solo como uma pessoa mais velha pela primeira vez foi profundo, um sentimento igual ao de estar aqui com vocês. Eu posso dizer que foi algo avassalador e inesperado. Depois de uma semana lá, estava caminhando sozinho e subitamente os ancestrais me sequestraram e eu comecei a chorar, porque eu senti aquele pertencimento, eu estava abraçado. E agora eu até me emocionei pensando nisso, assim como eu estou emocionado em olhar para os rostos lindos de todos vocês”, disse.

A atriz carioca Taís Araújo, uma das mais famosas e relevantes atrizes negras do Brasil, falou sobre a importância do evento acontecer em Salvador: “Aqui é um pólo cultural e criativo gigantesco do país, então é muito importante que essa discussão comece em Salvador e que passe por todo o país e que ganhe o mundo, levando as ideias que vão ser colocadas aqui hoje”, disse.

“Acho que um festival como o Liberatum serve muito para isso, discutir como é que a população negra quer ser retratada, como é que a gente quer contar as nossas histórias. Eu quero escutar outras pessoas negras, quero conhecer pessoas novas e depois realizar em cima das ideias que foram colocadas aqui. Se o primeiro ano do evento está sendo assim, tão grande, acho que no ano que vem tem a chance de ser muito maior, de atrair ainda mais pessoas. Então, que o Liberatum cresça mesmo e que seja essa plataforma de narrativas negras”, completou Taís Araújo.

O Festival Liberatum tem mais uma mesa nesta sexta-feira: Redesenhando a Cultura Preta no Imaginário Popular, com o modelo estadunidense Alton Mason, os produtores de moda baianos Pedro Batalha e Hisan Silva e a deputada federal Erika Hilton, a partir das 17h. Já às 20h, será realizado o prêmio e gala de honra cultural Liberatum para a cantora Alcione, em evento exclusivo para convidados.

Novembro SCA – O Festival Liberatum é o primeiro evento do Novembro Salvador Capital Afro, programação cultural que se estenderá na capital baiana durante todo este mês trazendo ainda festivais internacionais de música, como o Afropunk Bahia, e de cinema, como o Festival Internacional do Audiovisual Negro do Brasil (Fianb), além de eventos de moda negra, festivais de afroempreendedorismo e afrofuturismo, desfiles de blocos Afro e a reabertura do Museu Nacional de Cultura Afro-Brasileira (Muncab).

Titular da Secult, Pedro Tourinho destacou que o Liberatum é a prova de que Salvador está conectada com o mundo: “Ele não está aqui por acaso. Traz talentos internacionais para conversar com os nossos talentos, lideranças culturais para falar com nossas lideranças culturais. É a prova de que Salvador está conectada, de que as pessoas têm interesse em todo esse movimento para potencializar a nossa cultura e os nossos talentos para que a gente possa ganhar o mundo”, disse.

Essa é a primeira vez em que a plataforma mundial Liberatum chega ao Brasil, e Salvador foi a cidade escolhida pela organização por conta do seu legado cultural afro-diaspórico, sendo a cidade mais negra fora de África. O festival tem a co-realização da Prefeitura de Salvador, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult).

Nascido em 2001 para apresentar ao público programas artísticos notáveis, visionários culturais e agentes de mudança, o Liberatum já realizou eventos em Hong Kong, Estados Unidos, Papua-Nova Guiné, Reino Unido, Marrocos, Itália, Turquia, México, Espanha, Índia, França, entre outros países.

Programação – O Festival Liberatum também traz para Salvador a atriz Angela Bassett, que será homenageada com o prêmio de Pioneira Cultural. Reconhecida por interpretar mulheres negras fortes em obras como Malcolm X, Pantera Negra e no filme sobre a biografia de Tina Turner, a homenageada é uma das principais porta-vozes internacionais do evento sobre cultura negra, diversidade e inclusão.

Outro participante é o escritor nigeriano Wole Soyinka, primeira pessoa negra a receber o Prêmio Nobel de Literatura. Ele participará de uma mesa gratuita na segunda-feira (6), no Museu Nacional de Cultura Afro-brasileira (Muncab).

O show gratuito de encerramento será realizado no próximo domingo (5), com apresentações do grupo estadunidense Ground Zero Blues, e de artistas baianos como Lazzo Matumbi, Ilê Ayiê, Orquestra Afrosinfônica, Luedji Luna e Márcio Vitor. A programação também prevê homenagens a figuras ilustres como Vovô do Ilê e Débora da Banda Feminina Didá.

Programação do Festival Liberatum:

4 de Novembro
Ciclo de palestras no Centro de Convenções:
10h – Afrofuturismo (Ancestralidade, Inovação e Transformação) (Paulo Rogério e Tânia Neri)
11h30 – O Corpo como Ferramenta Política (Edgar Azevedo, Paloma Elsesser e Teodoro)
13h – De Quem é o Papel de Promover a Diversidade (Seu Jorge, Rossy de Palma e Hiran)
14h30 – Liderando nos Tempos Atuais (Alan Soares, Monique Evelle, Maurício Mota e Nina Silva)
16h – O Poder Transformativo da Arte (Kehinde Wiley, Bernardo Conceição e Bruno Rocha)

5 de novembro
Show de Encerramento na Praça Cayru a partir das 17h:
Honraria à Angela Bassett
Ground Zero Blues Club + Lazzo Matumbi
Ilê Aiyê e convidados
Afrosinfônica convida Luedji Luna e Márcio Victor (Psirico)

6 de novembro
Palestra no Museu Nacional de Cultura Afro-Brasileira (Muncab
15h – Wole Soyinka