Escavação de cemitério de escravizados começa nesta quarta-feira

Foto: Silvana Olivieri

Começa nesta quarta-feira (14), em Salvador, a escavação de um antigo cemitério de escravizados localizado no estacionamento da Pupileira, no bairro de Nazaré. A data marca os 190 anos da execução dos mártires da Revolta dos Malês, o maior levante de africanos escravizados já registrado na Bahia.

A descoberta do cemitério foi feita pela arquiteta e urbanista Silvana Olivieri, em pesquisa de doutorado na Universidade Federal da Bahia (UFBA). A localização foi identificada a partir da análise de mapas do século 18, imagens de satélite e documentos históricos. Segundo a pesquisadora, os corpos de participantes da Revolta dos Malês ,muitos deles executados após julgamento, teriam sido enterrados no local em valas comuns.

Antes do início da escavação, marcado para 14h, haverá um ato religioso. A expectativa é que, além dos malês, o espaço possa abrigar restos mortais de envolvidos em outras lutas históricas, como a Revolta dos Búzios (1798) e a Revolução Pernambucana (1817), além de indígenas, ciganos e pessoas pobres que não tinham condições de arcar com funerais.

O cemitério funcionou por cerca de 150 anos e era inicialmente administrado pela Câmara Municipal. Depois, passou para a gestão da Santa Casa da Misericórdia, até ser desativado com a inauguração do Cemitério Campo Santo, em 1844.

A escavação foi autorizada após mediação do Ministério Público da Bahia (MP-BA), em diálogo com a pesquisadora e o professor Samuel Vida, da Faculdade de Direito da Ufba, com participação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Segundo Silvana, os sepultamentos eram feitos de forma precária, sem ritos religiosos ou qualquer estrutura digna. “Eram valas superficiais, em condições indignas, sem capela, sem registro cerimonial”, afirmou.

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