Jovem comete transfobia ao descobrir que ‘ficante’ é trans, após 1º encontro em Salvador: ‘Gastei R$ 400’
Um estudante de direito de uma tradicional faculdade de Salvador, 21 anos, cometeu transfobia ao descobrir que saiu com uma mulher trans. Em contato com o Soteropoles, a vítima, 20, que preferiu não se identificar, relatou que vem sofrendo ataques nas redes sociais após a história viralizar em grupos no whatsapp.
Na última quarta-feira (14), a vítima registou um boletim de ocorrência em uma delegacia localizada no bairro de Itapuã e aguarda a investigação do caso.
De acordo com a vítima, o jovem descobriu a transexualidade da ficante após a ex-namorada entrar em contato e fazer a revelação. Após a descoberta, o rapaz enviou áudios, aos quais o Soteropoles teve acesso, humilhando a estudante de engenharia e cobrando parte do valor da conta do restaurante.
“Gastei mais de 400 reais com você, não era para ter saído com você! Eu não me relaciono com transsexual”, comentou. “Se você for, se você quiser me provar que você não é uma pessoa ruim, aí você me manda o valor ou a metade. Se você quiser dizer que você é uma pessoa menos ruim, que está arrependida do que fez, aí você me manda o pix”, completou.
Rapidamente, o assunto viralizou em grupos de WhatsApp e a jovem começou a receber ataques de ódio através de perfis falsos na internet. “Você é homem. Seu ‘viadinho’. Estou te vendo”, comentou em anônimo no perfil da garota.
Ainda em contato com a reportagem, a vítima revelou que conheceu o rapaz em um aplicativo de namoro. Após dois meses de conversa, ela aceitou o convite do jovem para jantar em um restaurante no Rio Vermelho. “Ele parecia ser uma pessoa interessante e extremamente educada”, conta.
No começo do relacionamento, o homem escrevia declarações românticas para a garota demonstrando carinho e afeto. Mas tudo mudou após os comentários transfóbicos. “Um dia ele veio me perguntar sobre minha identidade de gênero, e sem devaneios confirmei que era uma menina trans, ele desferiu vários ataques e críticas. Não dei muita importância e só apaguei nossas mensagens e parei de conversar com ele”.
“Um tempo depois ele me mandou 2 áudios enormes. Pensei que era se desculpando pelas barbaridades as quais tinha digitado, então simplesmente ignorei e apaguei nossas conversas novamente. Provavelmente após perceber que eu não daria atenção aos ataques, ele encaminhou os áudios para amigos, que compartilharam em vários grupos de Salvador e acabou gerando um conflito enorme com o meu nome”, contou.
Dados revelados pelo Atlas da Violência em junho de 2024 mostraram que entre a população LGBTQIA+, o número de agressões físicas e psicológicas subiu quase 40% em um ano. Nessa comunidade, mulheres trans foram 66,3% das vítimas transgênero. Grande parte dessas agressões acontecem após a descoberta dos parceiros acerca da transexualidade da vítima. Deste modo, a forma de vivenciar experiências românticas e sexuais fica limitada para pessoa trans, uma vez que temem pela sua integridade ao revelar sua mudança de gênero.
“Atualmente estou sendo vítima de ameaças, até de pessoas que estudam na mesma instituição que a minha. Decidi que pela minha segurança era necessário abrir um boletim de ocorrência contra o mesmo, e providenciar para que todos estes perfis fakes tenham suas identidades reveladas através de seu id”, completou.