Autor do livro “O Avesso da Pele” revela ameaças antes de vim a Salvador

 Autor do livro “O Avesso da Pele” revela ameaças antes de vim a Salvador

FOTO: Aline Gama / iBahia

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Na manhã deste sábado (27), durante a Bienal do Livro em Salvador, o autor de “O Avesso da Pele”, Jeferson Tenório, compartilhou sua experiência de enfrentar ameaças antes de visitar a cidade pela primeira vez. Tenório participou do painel “Livros e Liberdade”, realizado no Café Literário, ao lado da poetisa baiana Livia Natália e do jurista e professor de direito constitucional da USP, Conrado Hubner Mendes.

Livia Natália discutiu o poema “Quadrilha”, cujos outdoors foram censurados em 2016 na cidade de Ilhéus, por abordar a violência policial contra comunidades negras. Enquanto isso, Conrado Hubner Mendes, conhecido por obras como “O Discreto Charme da Magistocracia”, enfrenta tentativas de censura em suas colunas de jornal.

Jeferson Tenório compartilhou seu relato sobre as ameaças recebidas nas redes sociais antes de sua primeira visita a Salvador. Seu romance, publicado em 2020, foi selecionado em 2021 pelo Ministério da Educação para integrar o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) e foi distribuído às escolas nos anos de 2021 e 2022, inclusive em Salvador.

“No ano de 2021, quando visitei Salvador pela primeira vez para uma atividade em uma escola particular que havia adotado meu livro, comecei a receber ameaças de morte nas redes sociais. Diziam que se eu viesse falar sobre o livro, teria que fugir do Brasil porque seria alvo de violência”, compartilhou Tenório.

Ele detalhou ter recebido outras mensagens ameaçadoras, levando-o a registrar um boletim de ocorrência e iniciar os procedimentos legais necessários. “Identificamos os responsáveis pelas ameaças e demos início a um processo. O que é marcante é que a censura ocorreu devido ao conteúdo do livro, que aborda uma questão amplamente discutida, a violência policial, e as mensagens recebidas estavam relacionadas a isso”, acrescentou.

Em 2024, o autor enfrentou outro tipo de censura. Ele relatou que uma diretora escolar em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, fez um vídeo distorcendo o conteúdo de seu livro, alegando que era erótico e que o governo o estava distribuindo para crianças. O vídeo viralizou, deixando Tenório perplexo.

“Eu estava finalizando meu próximo livro quando vi o vídeo e fiquei chocado. Fiquei pensando diante do meu texto, ‘o que faço agora? Devo adicionar mais palavrões, já que teve tanto sucesso?'”, brincou.

Tenório aproveitou a oportunidade para esclarecer que seu livro não trata de temas eróticos, mas sim do luto. A história aborda um filho que perde o pai precocemente em uma abordagem policial e precisa aprender a lidar com essa perda. “Explora a precariedade da educação, o racismo estrutural, a violência policial. Tudo isso serve como uma cortina de fumaça para evitar discussões importantes, algo que essa direita conservadora não quer abordar”, opinou.

Segundo Jeferson Tenório, seu livro recebeu uma rápida resposta da sociedade, com apoio de instituições como a Academia Brasileira de Letras, entidades e movimentos negros, além de artistas como Chico Buarque e Fernanda Torres, e também de leitores.