Fiéis enfrentam sol e fila para reverenciar Santa Luzia
Foto: Bruno Concha/Secom PMS
Mesmo com o sol forte e as longas filas, uma multidão se deslocou para a região do Comércio de Salvador, com o objetivo de reverenciar Santa Luzia. Um verdadeiro mar de fiéis se reuniu, na manhã desta quarta-feira (13), para celebrar a santa protetora dos olhos, que na capital baiana tem a concentração realizada na Igreja de Santa Luzia do Pilar, localizada neste trecho da Cidade Baixa.
No adro e nos arredores do templo religioso, milhares de fiéis esperavam ansiosamente a vez de entrar na igreja e poder cumprir as promessas e os débitos anuais com a santa de devoção. Lá dentro, o ritual era semelhante: deita as mãos na tina d’água, leva aos olhos que, de fechados e opacos, se iluminam e se abrem. Em seguida, a multidão seguiu em procissão pela Avenida da França, ao som de cânticos em homenagem à padroeira dos oftalmologistas, conhecida pela alcunha de “janela da alma”.
A enfermeira aposentada Normélia Bonifácio, de 71 anos, moradora de Paripe e devota de berço, era trazida ao templo dedicado à Santa pela mãe, prática que foi intensificada aos sete anos, quando perdeu a visão de um dos olhos. “Graças a Deus e Santa Luzia, aos 10 anos, recuperei a visão. E sigo fiel até hoje. Recentemente perdi a visão esquerda e ela me devolveu novamente. Por isso sempre agradeço primeiro a Deus, em seguida a ela, que tem essa grande importância durante toda a minha vida”.
Nessa rotina, alguns celebram graças alcançadas, enquanto outros iniciam a longa jornada com promessas, penitência e a esperança de cura, seja para si ou para algum ente querido. Moradora da região de Cajazeiras, Nailda da Silva, de 83 anos, não deixa de homenagear a santa neste dia consagrado.
“Somos todos devotos de Santa Luzia, e hoje vim aqui em busca de cura para minha mãe, Narcisa Maria, que tem 105 anos e, recentemente, perdeu a visão. Vim pedir mais um pouco de luz nos olhos de minha mãe, para que ela possa chegar ao final com dignidade. Sou frequentadora desta igreja desde a infância, e sei que ela não me faltará, nem a ninguém de minha família”, pediu emocionada.
Fonte – Considerada milagrosa, a água que flui da fonte que brota no adro da igreja é tida como responsável pela cura e melhora de muitos problemas de visão desde o século XVII. Moradora da Baixa da Paz, em Cosme de Farias, e frequentadora assídua da cerimônia em louvor à Santa Luzia, Ivone Santana, de 72 anos, disse ter se livrado da catarata lavando os olhos na fonte consagrada à protetora dos olhos.
“Eu sempre vinha aqui, pegava um pouco de água para lavar os olhos, e hoje não aparece mais nada nos exames. Estou curada! Santa Luzia me fortalece e me leva para frente, sempre!”, comemorou a dona de casa.
Aos 70 anos, Feliciano da Conceição, morador de Lauro de Freitas, peregrina mensalmente para a Igreja de Santa Luzia, em busca de cura. “Meus olhos adoeceram, mas sinto melhora desde que me apeguei à Santa Luzia, me tornando um devoto. Chego cedo, assisto à missa, rezo o terço, e tenho certeza de que a doença não está avançando. E esse processo vai chegar à cura”.
Histórico – Protetora dos olhos e padroeira dos oftalmologistas, Santa Luzia, ou Lúcia de Siracusa nasceu no século IV e foi uma mártir da perseguição do imperador romano Diocleciano aos cristãos, antes da religião se tornar oficial no império.
Em Salvador, a igreja do Pilar foi edificada por espanhóis que chegaram à capital baiana em 1718, seguindo os estilos rococó e barroco. Na cidade, a devoção a Santa Luzia teve início no século XVII, em uma pequena capela localizada na região da Gamboa, ganhando força no Pilar a partir do século XX.
Filhos de Gandhy – Responsáveis pela festa que comanda a devoção na entrada do templo religioso, os membros do afoxé Filhos de Gandhy têm uma história particular com a santa protetora dos olhos na Bahia. Paulo Cesar do Sacramento, de 67 anos, foi o primeiro secretário da entidade carnavalesca e contou que, à época da fundação do bloco de afoxé, feita pelos estivadores do Porto de Salvador, os primeiros membros eram também frequentadores da Igreja de Santa Luzia, e dali surgiu o nome do bloco e os primeiros desfiles.
“Portanto, desde então, participamos desta linda festa em homenagem à Santa Luzia, reverenciando a nossa santa maior. Por isso é muito importante estarmos aqui todos os anos, cumprindo essa tradição que já está inserida no calendário de festas populares da cidade”, ressaltou.