Sindpoc aponta quadro de adoecimento mental dos policiais civis
Ambientes de trabalho insalubres, periculosidade da atividade policial, recorrência dos casos de assédio moral e sexual, e os baixos salários são os principais fatores apontados pelo Sindicato dos Policiais Civis do Estado da Bahia ao quadro de adoecimento dos servidores baianos. De acordo com o 17° Anuário da Segurança Pública, a Bahia foi o segundo estado do país em número de suicídios de policiais civis e militares em 2022.
Segundo a pesquisa, na Bahia sete profissionais tiraram a própria vida no ano passado e o número é o mesmo do estado de Pernambuco. O primeiro ente federativo no recorte é São Paulo, com 19 registros em 2022. A estatística contabilizou apenas os profissionais que estão ativos. O anuário mostrou ainda que, em todo o país, 82 profissionais da segurança pública cometeram suicídio. O número é menor que em 2011, quando foram contabilizadas 101 mortes.
A escrivã de Minas Gerais, Rafaela Drummond, de 32 anos, cometeu suicidou no mês de junho, era lotada em Carandaí, na região da Zona da Mata de Minas Gerais. É mais um caso que traz à tona a pressão psicológica e o assédio moral que atingem os policiais civis na Bahia e no Brasil. O presidente do Sindpoc, Eustácio Lopes, salienta que a categoria precisa da implementação de políticas públicas que visem fornecer assistência psicológica associadas a uma mudança de cultura institucional.
O sindicalista afirma que o assédio moral e sexual na Polícia Civil são institucionalizados e ocorrem devido à hierarquização que existe entre os delegados, que são considerados como “cúpula”, e os investigadores e escrivães que, na hierarquia interna, são vistos como “carreiras de base”, sem prestígio. O sindicalista afirma que “os servidores são obrigados a trabalhar em ambientes insalubres, sem as condições mínimas para o desempenho das atividades laborais, abrindo mão dos seus direitos trabalhistas, como fazer operações durante a madrugada sem receber hora extra, e as diversas agressões verbais e psicológicas”, relata.
O presidente do Sindpoc ressalta que as 26 unidades do interior baiano não disponibilizam atendimento psicológico aos servidores. Segundo Eustácio Lopes, o atendimento do Departamento Médico da Polícia Civil (Demep) se limita a Salvador e Região Metropolitana. “O interior é totalmente desassistido em relação ao atendimento médico do Demep e constatamos que o baixo efetivo acaba gerando excesso de jornada de trabalho, cobrança exarcebada, e esta sobrecarga de trabalho causa no policial civil o adoecimento laboral gerando, inclusive, sentimentos suicidas, diversos policiais já cometeram suicídio. Tivemos agora o caso de uma jovem escrivã de Minas Gerais que cometeu suicídio”, lamenta Eustácio Lopes.
” Precisamos que os servidores sejam acompanhados por equipes multidisciplinares e que as ações da Polícia Civil passem a ser humanizadas porque os policiais são desumanizados. A saúde emocional do servidor é um dever do estado e temos certeza que vamos ter o apoio do atual governador Jerônimo Rodrigues que já deu várias sinalizações que pretende adotar uma gestão mais sensível às demandas dos policiais civis”, pontua o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado da Bahia.